Computação mais biologia fazem um par perfeito? Para o artista cipriota Stelios Arcadiou, a resposta é sim. Pois foi graças a esse duo científico que, em 1996, ainda nos primórdios da Web, ele levou seu talento de bailarino e coreógrafo de vanguarda para palcos virtuais e começou a dançar ao sabor de pings. Soa estranho mas é explicável.
Originalmente, ping é a palavra usada para descrever o eco emitido pelo sonar de um submarino. Nos dicionários de internetês é o comando pelo qual é possível saber se certas páginas da Web estão acessíveis e se a conexão com elas é boa ou não.
Para realizar suas primeiras performances, Stelios criou o Ping Body. Trata-se de um software que capta o ritmo dos impulsos elétricos gerados por pings e transmite-os a sensores colocados no corpo, fazendo com que ele realize movimentos aleatórios. Esses movimentos, por meio de câmeras de vídeos, podem, então, ser visualizados no site Stelarc.
Ao longo de sua estranha jornada artística, Stelarc construiu algumas próteses. Um braço mecânico, que realiza movimentos impressionantes, e uma terceira orelha, que tem a finalidade de ampliar sons recebidos pelo programa Real Áudio.
São acessórios, que, segundo ele, o auxiliam em suas façanhas cibernéticas. Stelarc usa a expressão "fractal flesh" - carne fractal (fractal são formas geométricas irregulares) - como rótulo para suas experiências. Uma delas é o Parasite, personagem virtual que baila, por meio de impulsos eletromagnéticos. A mais recente é um robô de 600 quilos, dotado de inteligência artificial e batizado de Exoskeleton.
A máquina, apoiada em um tripé, desloca-se para fente, para trás, para os lados e retorna ao ponto inicial. Pode também agachar-se ou levantar-se, estendendo ou contraindo suas seis pernas.
A intenção é que o Exoskeleton crie uma coreografia que possa ser reproduzida por um ou mais bailarinos reais. Stelark vê o ciberespaço como um laboratório onde o corpo humano é transformado numa interface, em um novo tipo de mídia.
Stelark não foi o único a ser atraído por esse novo e espetacular recurso. O grupo Troika Ranch, de Nova York, capitaneado por Dawn Stoppiello e Mark Coniglio, criou o MidiDancer, espécie de colete aparelhado com sensores que "observam" os gestos de um bailarino real e os convertem em sinais digitais, que são organizados sob a forma de vídeos e animações por um software especial, o Isadora ( homenagem à famosa Isadora Duncan).
"O MidiDancer é uma ferramenta poderosa. Com ele, um dançarino torna-se também um coreógrafo, um técnico e um compositor ao mesmo tempo", diz Dawn Stopiello.
Na prática, o Troika levou a público, em junho de 2000, o Casamento Químico de Cristian RosaCruz, uma reflexão sobre as transformações que ocorrem na união total entre duas pessoas, montada pela combinação de dança, teatro, música e mídia digital. O Troika tem ainda uma peça feita exclusivamente para a Web: o Yearbody, que mostra 365 imagens de movimentos de balé.
O coreógrafo Merce Cunningham, um dos ícones do New York City Ballet, trilha o mesmo caminho de Stelarc e do grupo Troika. Em 1998, em Orlando, na Flórida, durante a Siggraph, exposição de tecnologia a serviço da arte, Cunningham apresentou Hand Drawn Spaces, espetáculo desenvolvido com a participação de dançarinos desenhados e animados digitalmente.
Atualmente, Cunningham trabalha em colaboração com o Riverbed e o Unreal Pictures (estúdios de animação) para oferecer aos internautas exibições exclusivas de balés virtuais, como o Biped e o Ghostcatching.
Idêntico objetivo tem o coreógrafo e web designer Richard Lord. Seu WebDances é um show. Lá, é possível apreciar duas seqüências notáveis de coreografia: o Progressive 2, e o Blue Room, que permitem, a um clique do mouse, total interação com os bailarinos.
Na Random Dance Company, do inglês Wayne McGregor, a tecnologia também ocupa um lugar de destaque. Com sensores ligados a pontos estratégicos de seus braços e pernas, ele dá vida a figuras tridimensionais que fazem da tela do computador um palco sem limites.
A obra-prima de McGregor, aclamada por público e crítica, é uma trilogia sobre as forças da natureza: Millenerium, Sulphur 16 e Aeon. Millenerium revela todo o poder do elemento Água. Sulphur 16 representa o Fogo. Aeon é o universo do Ar.
Os resultados que ele conseguiu têm provocado admiração em todo o mundo. Sulphur 16, por exemplo, começa com uma imagem projetada numa tela transparente, que sugere uma enigmática espiral, que, lentamente, transforma-se num gigantesco corpo humano, que irradia uma intensa luminosidade. Em seguida, a grande surpresa: bailarinos reais e virtuais, com o mesmo porte físico, dançam juntos no palco.
A proposta de Aeon é tecnologicamente mais radical. "Aeon questiona os esquemas herdados de espaço e tempo, levando o corpo para a quarta dimensão, que surgiu de nossa experiências de telepresença, realidade virtual e interatividade", explica McGregor. A mais nova invenção de McGregor comemora o décimo aniversário da Random Dance: é Nemesis, coreografia que explora as relações entre corpo, tela e máquina.
Nesse projeto, McGregor associou-se a famosos do cinema e da música: Jim Henson, criador dos Muppets, dos extraterrestres de Perdidos no Espaço, e Scanner, compositor e mestre em efeitos sonoros. Na página da London Dance há vídeoclips de Nemesis, disponíveis para download.
Muitos outros artistas mergulham em pesquisas e tentam conseguir financiamento para seus ousados projetos. É o caso de Tim Glenn. No site da Universidade de Ohio, ele apresenta muitos ambientes para investigação, como os de conceitos espaciais, sistemas interativos, telepresença e performances tecnológicas.
"Nosso objetivo é encorajar profissionais, e até mesmo simples curiosos, a ir a fundo nos benefícios da simbiose corpo-máquina", ele explica.
Fonte: Agência Estado / iBest
* O conteúdo das notícias da Agência Estado / iBest é de inteira responsabilidade da mesma, não podendo ser modificado ou editado.